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YAMATA-NO-OROCHI: A FAMOSA HISTÓRIA DO DRAGÃO DE OITO CABEÇAS | TATUAGENS JAPONESAS
O dragão de oito cabeça chamado de Orochi é o mais temível dragão da mitologia japonesa, esta criatura lendária tem uma de suas cabeças representando um elemento: fogo, água, terra, vento, veneno, trovão, luz e a escuridão do universo, seus olhos brilham como a luz do fogo e era um gigante, tanto que as histórias o descrevem com o tamanho de oito montanhas e oito vales, seu corpo, coberto de musgo verde como cedro, estava constantemente queimando como as chamas de um vulcão, rios de sangue correm ao seu redor e ele carregava um reluzente sino, cujo som era sinistro e temido pela população local.
Existe uma estátua de Susa-no-O e Yamata-no-Orochi (Estação Izumoshi) O Yamata-no-Orochi é talvez o mais assustador de todos os muitos monstros mitológicos do Japão. Segundo o Kojiki (livro mais antigo sobre história do Japão antigo), essa temível serpente tinha oito cabeças e oito caudas, com um corpo grande o suficiente para abranger oito vales e uma superfície de tal magnitude que nela cresciam musgos e arvores, diz-se que a barriga da fera estava coberta de feridas vermelhas e sangrentas, e seus olhos brilhavavam como a luz do fogo.
Até o nome da besta é estranho e misterioso, “Yamata” significa “oito garfos”, referindo-se ao tipo de garfo ramificado como de uma árvore.
Existe uma grande dúvida, essa fera sempre foi descrita como tendo oito cabeças, porem a besta poderia ter nove cabeças, já que “Ya”, que significa “oito”, também pode significar “um grande número”, o Yamata-no-Orochi pode ter sido uma serpente com muitos pescoços.
Com a combinação de uma aparência aterrorizante, grandes proporções e detalhes enigmáticos, essa criatura é perfeita para exercitar sua imaginação.
Gravura (cujo autor é desconhecido para mim) representando Susano e Yamata-no-Orochi (representado na forma de um Tatsu ou Ryu ). As taças cheias de saquê (na parte inferior da imagem) provam que esta é de fato a batalha entre os Kami das Tempestades e o Dragão de Koshi. Dizem que o Yamata-no-Orochi fazia visitas frequentemente a vila de Izumo (localizada na atual província de Shimane) todos os anos para devorar meninas. Um ano, coube a Kushi-nada-hime ser sacrificada, a última de oito filhas, cujas irmãs morreram da mesma maneira antes dela, no entanto, ao saber da situação da menina, a divindade Susa-no-O se ofereceu para matar e dominar esta terrível fera em troca da mão de Kushi-nada-hime em casamento.
Em preparação para sua luta com a grande serpente, Susa-no-O preparou um saquê extremamente forte e serviu em oito jarras, quando Orochi chegou, enfiou uma cabeça em cada jarra e bebeu todo o saquê, que bêbado logo adormeceu, vendo a grande chance, Susa-no-O atacou a criatura, rasgando-a e cortando-a em pedaços e, finalmente matando a grande ferra.
Depois que Susa-no-O matou Orochi, ele notou uma espada magnífica aparecer da cauda da besta Susa-no-O pegou a lâmina e a ofereceu a Amaterasu no Céu, esta espada era Ame-no-Murakumo-no-Tsurugi, que mais tarde seria conhecida como Kusanagi-no-Tsurugi, um dos três tesouros sagrados do Regalia Imperial do Japão.
Desta forma, Susa-no-O derrotou Orochi, casou-se com Kushi-nada-hime e se estabeleceu para viver em Izumo.
As cobras e serpentes sempre foram vistas como divindades associadas à água por milênios e em muitas culturas, Yamata-no-Orochi não foi diferente, este ser é visto como o representante do rio Hii na província de Shimane, a aparição e eventual salvação neste mito de Kushi-nada-hime, que poderia ser considerada a deusa dos campos de arroz, sugere que o conto pode ser interpretado como aquele que se relaciona com a proteção das inundações provocadas pelas divindades da água em plantações. O mito também foi visto como relacionado à Idade do Ferro, pela barriga vermelho-sangue do Orochi lembrando as chamas da produção de ferro e a criação milagrosa de uma espada como a cauda da besta, significando o nascimento do armamento feito de ferro.
Um dos mitos dos hititas, a mais antiga cultura da Idade do Ferro no mundo, também fala de uma serpente, chamada Illuyanka, e sua morte pelo herói Hupasiyas. De acordo com esta história, Hupasiyas realizou um grande banquete para enganar Illuyanka a aparecer de um buraco no chão, Hupasiyas deu à serpente uma grande quantidade de comida e vinho e então atacou e matou a fera, uma vez que ela ficou muito gorda para escapar de volta pelo buraco. Este antigo mito tem muito em comum com o conto de Orochi, com ambas as criaturas encontrando um fim violento nas mãos de heróis astutos que usam a generosidade da terra para derrotá-los.
A história de Orochi também reflete em parte o famoso mito grego de Perseu e Andrômeda, no qual um herói luta e derrota uma grande fera para salvar e depois se casar com uma mulher entregue como sacrifício, este é um tema comum em muitos contos heróicos de todo o mundo e vive hoje em histórias de donzelas sendo resgatadas de dragões por príncipes.
O mito de Yamata-no-Orochi traz consigo uma grande variedade de temas, alguns específicos da cultura japonesa e outros de ressonância mais universal. Este conto reflete o fascínio humano pelo encontro da terra e da água, e até mesmo a herança comum das civilizações orientais e ocidentais. Podemos dizer que para pesquisar sobre esta história não faltam artigos espalhados pela internet, muitos animes estão inspirados nestas lenda que envolvem os dragões.
Até os dias de hoje a existências dessas criaturas continua sendo um mistério que só conhecemos através de historias!
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As tatuagens no Japão: por que elas são tão ligadas à Yakuza?
As tatuagens japonesas enriqueceram a imaginação de milhões de pessoas em todo mundo, incluindo pessoas que tem tatuagens e pessoas que não tem tatuagens. As criações da arte Irezumi são uma identificação do próprio país; eles fazem parte da magnificência e da magia do Japão. Mesmo as opiniões da sociedade ainda estejam contaminados por visões da yakuza ou não, essa decisão ajuda a defender o significado cultural de uma forma de arte que capturou alguns dos melhores aspectos da gloriosa história e civilização do Japão. Os tempos estão mudando e as percepções arcaicas da conexão de Irezumi com a criminalidade estão ainda um pouco lenta, mas seguramente, e a visão tem mudado aos poucos pelos japoneses mais conservadores.
Não há uma lei específicas contra a tatuagem no Japão, mas existe regras não escrita que condena as tatuagens expostas em publico. O que curioso porque o Japão tem um traço cultural muito forte com as tatuagens de corpo inteiro, chamadas de irezumi. Muitas delas trazem motivos religiosos, mitológicos, animais, natureza e personagens da literatura e folclore japonês.
Isso por causa da associação que há entre tatuagens e a Yakuza — organização criminosa que opera no Japão há centenas de anos.
O que é a yakuza?
Os membros da yakuza estão envolvidos em muitas atividades criminosas como prostituição, jogo e extorsão e corrupção.
“Eles cresceram a partir de um movimento no submundo de vendedores ambulantes e pessoas envolvidas com jogos de azar que começaram a se unir e a sentir que eram os guardiões do Japão tradicional e orgulhoso nacionalista japonês.
E, embora se sintam tranquilos de extorquir políticos, empresários e pequenas empresas, alguns dos chefes mais antigos eram “realmente contra” coisas como o tráfico de drogas.
“Eles sempre tiveram suas razões para fazer as coisas ao próprio estilo”.
E as tatuagens?
“As tatuagens são cruciais para os membros da yakuza”, sendo um símbolo de status e poder.
Mas elas não são usadas como marcadores para indicar que uma pessoa que tenha tatuagem faça parte de uma gangue de Yakuzas.
São uma “representação muito pessoal” de uma cena da vida do membro da yakuza, ou algo importante para eles simbolicamente – que visa mostrar às pessoas os atributos pelos quais a pessoa que são membros conhecida.
Muitos membros da yakuza tem quase todo o corpo tatuado, das costas às nádegas e a parte superior das pernas, bem como os braços – embora, devido ao estigma que as tatuagens mantêm na sociedade japonesa, muitas vezes vão apenas até o limite dos antebraços e das canelas. Quanto mais tatuagens mais eles sentem corajosos e cheio de poder.
As tatuagens demoram muito tempo para serem concluídas e custam muito dinheiro, são feitas por sessões e os desenhos são cheios de detalhes.
“As tatuagens antigas feitas no Japão eram feitas artesanalmente, com uma vara de bambu fina com um grupo de agulhas na parte superior. esta técnica ainda e usada ate os dias de hoje mas pode se contar nos dedos a quantidade de artistas que mantém esta prática no Japão.
“No Japão é uma honra ter um trabalho de tatuagens assinando pelo tatuador, o nome de seu mestre tatuador é algo tão importante na tatuagem quanto a própria arte, no Japão existe essa velha tradição que continua ate os dias de hoje.”
‘ A tatuagem tem a ver com respeito’
Os membros da yakuza mantêm suas tatuagens escondidas quase todo o tempo, em público porque sabem que elas são malvistas.
As tatuagens são usadas muitas vezes pelos membros da yakuza para intimidar a população e ate mesmo seus oponentes.
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Golden Week – Semana dourada
O Japão é um dos países com mais feriados ao longo do ano, isso se deve principalmente pelo fato de não existirem férias remuneradas de 30 dias, como no Brasil e em outros países. Esses diversos feriados são espalhados ao longo do ano, mas determinadas datas acabam sendo próximas um das outras, originando 3 grandes feriados prolongados:
- O feriado do ano novo, que engloba o Oshougatsu, data extremamente importante na cultua japonesa.
- O feriado de verão, (Natsu Yasumi), onde as pessoas aproveitam para fazer mais passeios ao ar livre, visitar parques e praias, devido ao calor da época;
- E a semana dourada – Golden Week: semana que engloba vários feriados nacionais e que tem início agora, entre final de abril e começo de maio.
A Golden Week é composta por várias datas de suma importância no calendário japonês, são elas:
- Dia 29 de abril – dia de Showa, data na qual era o aniversário do Imperador Showa (que foi o 124° Imperador japonês e que teve o maior reinado de todos, sendo símbolo do crescimento do Japão como potência mundial);
Imperador Showa - Dia 3 de maio – Kenpo Kinenbi (憲法記念日) , dia da constituição japonesa, que entrou em vigor dia 3 de maio de 1947, substituindo o antigo regulamento da era Meiji. Nesta data as portas do Kokkai Gijido – Palácio do Parlamento Japonês são abertas ao público, e é costume da população refletir sobre as leis japonesas e a democracia em geral;
Kokkai Gijido - Dia 4 de maio – Midori no Hi (みどりの日), é o dia do Verde, é uma data propícia para visitar um parque em família, realizar atividades relacionadas ao respeito à natureza. Vários voluntários se disponibilizam a plantar árvores, ministrar palestras e oficinas ligadas à prática da educação ambiental e sustentabilidade;
- Dia 5 de maio – Kodomo no Hi (こどもの日), é o dia da criança, data para celebrar a felicidade das crianças, em especial dos meninos, faz parte da tradição colocar bandeiras em formato de carpas penduradas ao redor das residências, a carpa (Koi) tem uma grande importância dentro da cultura japonesa, sendo mencionada em várias lendas e relacionada com a boa sorte.
Koinobori Além dessas datas especiais, a Golden Week marca o fim do inverno, época do Hanami, período onde as tradicionais cerejeiras (Sakuras), tem o ápice de seu florescimento, proporcionando um período de beleza única e ideal para contemplação da natureza.
Hanami Texto por Rafael Lucente
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Gueixas – as especialistas nas artes
As gueixas (芸者) são mulheres japonesas que se dedicaram em estudar e se especializar nas diversas artes relacionadas ao Japão, como a música, poesia e a dança.
Seu papel era extremamente importante na sociedade japonesa, atuando mais ativamente na parte do entretenimento de festas ou ocasiões especiais e NÃO estão relacionadas a serviços sexuais, como é o pensamento de muitas pessoas no Ocidente.
Para atingirem esse posto de “guardiãs” da vasta cultura Japonesa, as gueixas ou Geiko (芸子) como também são conhecidas, passam por rigorosos treinamentos, que além de durarem muitos anos, custavam muito caro, ao passo que muitas vezes, a gueixa possuía um danna (uma espécie de patrocinador) que financiava os estudos da até então maiko, nome utilizado para as aprendizes de gueixa. Todo esse aperfeiçoamento era feito em lugares conhecidos por oki-ya e se iniciava antes da mulher completar 18 anos.
Além de dominarem diversos tipos de danças e origamis, as gueixas também sabiam tocar alguns instrumentos, como o shamisen, que foi obrigatório para todas as gueixas durante um certo período. Junto com o treinamento, vinham normas de etiqueta, postura e conhecimentos sobre vestuário e maquiagens, que eram um grande diferencial das gueixas e se caracterizava por:
- Pele branca – graças a grandes quantidades de maquiagem branca, as gueixas apresentavam o rosto em tons bem claros, o que reforçava o fato de serem consideradas símbolos de beleza; Este processo era extremamente cuidadoso, realizado pela onee-san (irmã mais velha) ou pela okaa-san (“mãe”) e durava cerca de 2 horas. Originalmente, esse tipo de cosmético era a base de chumbo, que é tóxico, prejudicando a saúde e podendo até causar manchas amareladas na pele;
- Cabelo – outra característica marcante das gueixas era seu penteado, em alguns momentos da história era utilizado o cabelo longo, porém o tipo de penteado que mais está associado a elas é um tipo de coque chamado shimada e possui algumas variações, como o shimada taka (um coque mais alto) e o shimada tsubushi, um coque mais achatado. Já as aprendizes maiko, usavam o uiwata, coque com um pedaço de algodão colorido no formato de uma metade de pêssego;
- Vestimentas – o traje usado pelas gueixas era o quimono, que poderia ter diferentes cores dependendo da ocasião ou até mesmo da estação do ano, as maiko também usavam quimonos, porém as mesmas usavam vestimentas de cores vermelhas ou rosadas, e seus quimonos possuíam mangas mais longas, o que ajudava a diferenciar uma gueixa mais experiente de uma aprendiz.
Em geral a mulher que pretendia se tornar gueixa deveria dedicar sua vida toda a isso, abrindo mão por exemplo de ter um marido e filhos, o que tornava ainda mais difícil e valorizava ainda mais esse grande posto na sociedade. Tema muito utilizado em tatuagens asiáticas, as gueixas se tornaram símbolo de beleza e dedicação, tanto na Ásia como no ocidente, inspirando vários contos e livros, como o caso de “Memórias de uma gueixa” que acabou se tornando filme e sendo sucesso mundial.
Texto por Rafael Lucente.
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Daruma : O boneco da sorte
O Daruma ( だるま) é um típico boneco japonês, normalmente dado como presente, afim de trazer proteção, sorte e realizar desejos.
O nome de Daruma deriva da pronuncia de Dharma, e surgiu a partir de uma história de um monge indiano (Bodhidharma) fundador do budismo Zen, que para não dormir, arrancou suas pálpebras e meditou por 9 anos.
Monge Bodhidharma Em geral os bonecos Daruma são de madeira, apresentam com vermelha (em razão do traje utilizado pelo monge), possui formato arredondado e sem mãos nem pés (pelo fato dos membros do monge terem se atrofiado ao longo dos 9 anos de meditação) e originalmente não possui pupila, já que faz parte da tradição pintar uma pupila do boneco quando fizer um pedido para ele e a outra quando o desejo se realizar. Para finalizar o ritual do pedido, o boneco deve ser queimado simbolizando que o espírito não esqueceu do pedido.
Além dessas características, o boneco possui uma sobrancelha relacionada as aves grou e uma barba relacionada a tartaruga, ambos possuem um significado muito forte com relação à longevidade.
Ilustração por Toshio Shimada Texto por Rafael Lucente
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Tigre na cultura asiática (上山虎)
A cultura asiática é mundialmente conhecida por sua riqueza de histórias, lendas e significados. Além de criaturas mágicas, demônios e divindades, destacam-se também os animais, como é o caso do tigre.
O tigre (虎 – tora) é considerado um animal divino pelos povos asiáticos e o supremo animal terrestre, sendo um dos 4 animais sagrados ao lado da fênix, tartaruga negra e o dragão.
O tigre é um animal extremamente feroz, imponente e belo, além de estar no topo da sua cadeia alimentar. Essas características fazem com que as tatuagens de tigres estejam associadas à força, coragem, beleza e poder.
Na crença budista, o tigre representa a fé, a força espiritual e a disciplina. Já para povos chineses, está mais associado a realeza, especialmente se tratando do tigre siberiano (tigre branco)
O tigre branco (Byakko) simboliza o outono e o elemento metal e na cultura chinesa, seria o guardião do ponto cardeal oeste.
Além de todos os significados positivos, o tigre também pode representar a ira e a vingança, de modo que alguns demônios são retratados usando trajes feitos de pele de tigre.
Na tatuagem em geral, o tigre costuma aparecer associado ao dragão, ou como peça principal da tatuagem, tendo flores como sakura ou rosas como fundo da composição.
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Oni – “demônio” do folclore japonês
A cultura oriental no geral é extremamente rica e nela destaca-se principalmente as lendas do folclore japonês, que por muitas vezes é usado como referências para tatuagens, como é o caso da lenda de Kintarō – Oniwakamaru, da Hannya e do Oni, criatura muito presente em peças do teatro Nos japonês.
O termo Oni (鬼) significa ogro ou troll, é muitas vezes descrito como demônio, porém o termo mais correto pra demônio em japonês seria yokai.
Esta criatura possui corpo de ser humano, cabeça de animal (que vai de macaco até pássaros) e 2 ou 1 chifres que podem ter formatos e tamanhos variados. Sua expressão sempre nervosa, faz com que sejam considerados criaturas maléficas, que atormentam vilas inteiras e poderiam até se alimentar de seres humanos, tanto os pecadores do inferno, como de alguns seres na Terra.
Uma das variações é descrita usando um fundoshi de tigre (um traje típico japonês que se assemelha a uma tanga) e pode representar Kimon, a porta do demônio, na qual os espíritos devem passar.
Porém os Oni também podem ser considerados um símbolo de proteção, ao passo que sua aparência feroz ajudaria a afastar espíritos e energias negativas.
No japão é comemorado o Setsubun, um feriado para celebrar a chegada da primavera e os Oni tem grande importância para a data, pois é tradição que nesta data pessoas usem máscaras de ogros com intuito de afastar as coisas ruins da estação que está chegando.
Além do folclore tradicional, os Oni aparecem frequentemente na cultura Pop japonesa, servindo de inspirações para vários personagens de animes, mangás e jogos, como acontece em Dragon Ball Z, Naruto e Pokemon.
As tatuagens de Oni normalmente são usadas como símbolo de proteção para a pessoa e podem compor um desenho com outras peças, ou então sendo a peça principal.
Texto por Rafael Lucente
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Samurai – O guerreiro da honra
Samurai (侍) é o termo usado para guerreiros japoneses que se originaram no período Heian (平安時代), no final do séc. VIII em campanhas para subjugar as tribos Enishi, em Tohoku – norte do Japão, e desde então, são símbolos da honra e integridade.
A palavra samurai significa “aquele que serve“, um outro termo que representa bastante o significado dos samurai é bushi (武士), que seria “homem de armas“.
Ao longo dos séculos, o Samurai tornou-se mais e mais poderoso e, eventualmente, se tornou a “nobre guerreiro” do Japão. Eles seguiram um conjunto de regras que passaram a ser conhecidas como Bushido (武士道) – “o caminho do guerreiro”.
O código não escrito e não dito enfatizava a lealdade, a frugalidade, domínio das artes marciais e honra até a morte, mas também evoluiu para representar a bravura heróica, o orgulho familiar feroz e a devoção desinteressada, às vezes sem sentido, de mestre e homem.
Os guerreiros samurai usavam armadura e uma vasta gama de armas, incluindo arco e flecha, lanças e espadas. Após tornar-se um bushi (guerreiro samurai), o cidadão e sua família ganhavam o privilégio do sobrenome. Além disso, os samurai tinham o direito (e o dever) de carregar consigo um par de espadas à cintura, denominado daishô (大小) um verdadeiro símbolo samurai. Era composto por uma espada curta (tanto), cuja lâmina tinha aproximadamente 40 cm, e uma grande (katana), com lâmina de 60 cm.
Porém, a paz começou a durar no período Edo, o que fez com que vários samurai se tornassem professores, artistas ou burocratas já que a necessidade de habilidades marciais se tornou menos importante.
Quando o Imperador Meiji chegou ao poder, ele começou a abolir os poderes dos samurai e começou a introduzir um exército de estilo ocidental, recrutado a partir de 1873. Sendo assim, o direito de usar a katana foi perdido, bem como o direito de poder executar qualquer um que desrespeitasse um samurai em público. No entanto, sua influência é vista até hoje na cultura japonesa e nas artes marciais modernas.
A honra dos samurai era tão importante , que caso fossem derrotados em batalha ou falhassem em algum objetivo, o código de honra exigia que o samurai se suicidasse, no ritual chamado de harakiri (腹切) ou seppoku (切腹, cortar o ventre). Este ritual consistia em uma morte lenta e dolorosa, o samurai fincava sua espada no lado esquerdo do abdômen, cortando a região central do corpo e depois puxava a lâmina para cima, esse ferimento era fatal, porém poderia levar horas até o óbito. Tudo isso era feito na frente de testemunhas e o samurai dispunha de um assistente para decepar sua cabeça, caso demonstrasse algum sinal de fraqueza durante esse processo.
Caso algum samurai não tivesse um daimyo “mestre” ou por algum motivo renegado o ritual do harakiri, este era chamado de Ronin (浪人; 浪 = Onda, 人 = Homem). A vida de um ronin era basicamente viver peregrinando, trabalhando em pequenos empregos e serviços em troca da refeição do dia e da pratica das artes samurai. Os ronin tornaram-se temidos por sua grande habilidade em combate e como não seguiam o bushido, eram considerados mais temíveis do que os próprios samurai.
Na cultura japonesa, acredita-se que todo homem segue um destino, sendo assim, o ronin representa bem o significado de seu nome (homem onda), pois não possui um destino e nem sentido, da mesma maneira que as ondas do mar.
Texto por Rafael Lucente.
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Fudō Myōō – Acala
Fudō Myōō – 不動明王 é uma divindade protetora Budista, mais especificamente das tradições Shingon (眞言), uma das maiores escolas dentro do Budismo, e vertente do Budismo Vajrayana. Está classificado como um dos Reis da Sabedoria, sendo o mais conhecido entre os Cinco Reis da Sabedoria do Ventre.
Acala (em sânscrito: अचलनाथ), Acalanatha Vidya Rāja ou “Senhor Inabalável“, como também é conhecido, costuma ser representado em tons de azul, com uma expressão nervosa, portando uma espada que corta as mentes ignorantes e egoístas e um laço que mantém a mente no caminho da sabedoria e controla as emoções mais violentas.
A espada usada por Acala é chamada Vajra (金剛杵) e possui um cabo com formato peculiar simbolizando as propriedades de indestrutibilidade do diamante e da força do trovão, é comum encontrar ilustrações em que ela aparece flamejante, em outras ocasiões é descrita como uma espada do tesouro (宝剣), ou até mesmo como Kurikara-Ken, uma espada envolta por um dragão, como foi ilustrada na pintura de Akafudō.
Atrás de Acala aparece uma espécie de aura de fogo que está relacionada com Garuda, um pássaro de fogo que na mitologia Hindu, é equivalente à Fênix. Essa chama é responsável por queimar as impurezas e maldades do mundo.
Outra característica é a rocha em que Acala permanece sentado, que está ligada a paz e felicidade inabalável de seus seguidores.
Acala por Toshio Shimada De acordo com as lendas Fudō Myōō pode possuir até 48 servos ao todo, mas normalmente são apenas 2 jovens, Kimkara (矜羯羅童子) e Cetaka (吒迦童子) que aparecem juntos a ele.
No Japão o Fudō Myōō é uma das principais deidades, sendo encontrado em templos e santuários ao ar livre, como o famoso Narita Fudo.
Além de todos esses significados, de modo geral o Fudō Myōō simboliza de forma enérgica, a força de vontade em incentivar todos os seres vivos a seguirem os ensinamentos de Buda. Devido a todas essas lendas que o Fudō Myōō se popularizou no meio da tatuagem, onde serve como referências para Back Pieces (tatuagens que cobrem as costas inteiras), pois seu tamanho seria proporcional à proteção que a pessoa receberia. Ainda sobre tatuagens, é comum que a escolha da divindade seja devido ao ano de nascimento da pessoa, uma espécie de “signo” onde cada ano seja “regido” por um deus diferente.
Tatuagem Acala por Toshio Shimada Um outro ponto interessante é que 2017 é considerado o ano do Fudō Myōō.
Texto por Rafael Lucente.
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Horihide – um dos grandes mestres do Tebori
Kazuo Oguri (conhecido também como Horihide) é um artista e tatuador extremamente conhecido e influente no meio da tatuagem.
Horihide em seu studio Horihide nasceu em 1937 no Japão, e é um dos grandes mestres do Tebori (técnica de tatuagem com bambus) ainda vivos. Parte de sua fama vem do fato de ter sido o responsável por trazer a cultura da tatuagem oriental para os americanos, influenciando assim outros grandes nomes como Sailor Jerry e Ed Hardy, o que se tornou um marco na tatuagem ocidental e dando origem posteriormente a um novo estilo, o body suit (tatuagem de corpo inteiro).
Ilustrações de Horihide Sua vida de aprendiz na tatuagem não foi nada fácil, era comum que aprendizes ficassem anos apenas olhando seu mestre trabalhar. Em alguns momentos chegou a questionar a evolução de seu trabalho, o que fez com que começasse a usar seu próprio corpo como material de estudo, especialmente depois de ter descoberto que seu mestre possuía partes do corpo totalmente pretas de tinta.
Só depois de muitos anos de estudo e prática que realmente iniciou seus primeiros trabalhos. Hoje com 79 anos de idade afirma: “Enquanto puder mover minhas mãos, vou continuar tatuando.”
Texto por Rafael Lucente